INVENTÁRIO FLORESTAL E LAUDO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA URBANA, EM GOIÂNIA, GOIÁS

INVENTÁRIO FLORESTAL E LAUDO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA URBANA, EM GOIÂNIA, GOIÁS

Fábio Venturoli¹; Guilherme Murilo de Oliveira²; Carlos Antônio Quinta de Andrade³; Lucas Caetano dos Anjos³

 

 

 

 

RESUMO

Este trabalho refere-se a um levantamento florístico realizado em uma área de 960 m², em Goiânia, estado de Goiás. Foi realizado o inventário florestal 100%, por se tratar de uma área pequena. Todas as árvores com DAP ≥ 5 cm (diâmetro a 1,30 metros de altura em relação ao nível do solo) foram identificadas, contabilizadas e tiveram as alturas totais e os DAP’s mensurados. Os diâmetros foram medidos com suta e as alturas com clinômetro eletrônico. A identificação das espécies foi feita até o nível de espécies, sempre que possível. O objetivo do estudo foi conhecer a flora arbórea local, quantificando-a e mensurando as suas dimensões em diâmetro e altura total para identificar as espécies dominantes e as espécies raras e se existem espécies protegidas por Lei, imunes ao corte. A flora indicou ser uma fitofisionomia florestal, com árvores de médio e grande porte, para o Cerrado. Não foram encontradas espécies protegias por Lei e imunes ao corte, segundo a legislação municipal. Este tipo de levantamento florestal é demandado pela Agência Municipal de Meio Ambiente/AMMA, no município de Goiânia/GO, especialmente, para quantificar a Compensação Ambiental referente à supressão da vegetação, em cordo com a legislação vigente.

 

PALAVRAS-CHAVE: Fitossociologia; Cerrado; biometria; dendrologia

 

INTRODUÇÃO

O presente trabalho refere-se a um relatório técnico de inventário florestal, seguindo o Termo de Referência da Agência Municipal de Meio Ambiente/AMMA para Laudo de Vegetação (AMMA, 2023). O objetivo da publicação é auxiliar profissionais recém-formados ou com pouca experiência em inventários florestais a analisar os dados e a escrever os seus relatórios técnicos e, com isso, contribuir e auxiliar estes profissionais em sua atuação profissional.

Trata-se de levantamento florístico, Inventário Florestal 100%, em uma área de 960 m², localizada em Goiânia-GO. O imóvel é privado e está localizado em uma área urbana, onde foi feito o diagnóstico da vegetação e o levantamento das árvores existentes, conforme especificado Termo de Referência para Laudo de Vegetação, da Diretoria de Áreas Verdes e Unidades de Preservação e Conservação – DIRAVU, da Gerência de Arborização Urbana –GERARB, da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia/AMMA.

 

OBJETIVO E JUSTIFICATIVA

O objetivo foi conhecer a flora arbórea local, quantificando-a e mensurando as suas dimensões em diâmetro e altura total para identificar as espécies dominantes e as espécies raras, checando se existem espécies protegidas por Lei, imunes ao corte. A justificativa está relacionada a um processo de Licença/Autorização para supressão da vegetação local.

 

 

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado o inventário florestal 100%, por se tratar de uma área pequena. Todas as árvores com DAP ≥ 5 cm (diâmetro a 1,30 metros de altura em relação ao nível do solo) foram identificadas, contabilizadas e tiveram as alturas totais e os DAP’s mensurados. Os diâmetros foram medidos com suta e as alturas com clinômetro eletrônico. A identificação das espécies foi feita até o nível de espécies sempre que possível. As árvores bifurcadas tiveram todos os DAPs mensurados e foi calculado o diâmetro equivalente para as análises quantitativas, conforme Soares et al. (2011).

Foi feita a análise fitossociológica e os estudos de riqueza e diversidade florística, assim como a análise da distribuição diamétrica e de alturas, e as relações hipsométricas, seguindo Venturoli (2015). As árvores mortas em pé foram quantificadas e mensuradas somente em DAP.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A vegetação local é um pequeno fragmento de Floresta Estacional Semidecidual. Detalhes sobre este tipo de formação florestal estão disponíveis em Pereira et al. (2011).

No local foram encontradas 48 árvores, pertencentes a 19 espécies, de nove famílias botânicas. As espécies mais importantes aferidas pelo índice de Valor de Cobertura/IVC foram Machaerium acuminatum Kunth (14 indivíduos), Inga cylindrica (Vell.) Mart. (5 indivíduos), Virola sebifera Aubl. (5 indivíduos) e Platymiscium floribundum Vogel (4 indivíduos). Estas quatro espécies representaram 54,3% do IVC. As árvores mortas em pé representaram 10,6% do IVC, ocupando a terceira posição no rank de IVC. As demais espécies, 15 no total, apresentaram apenas um indivíduo cada uma, sendo consideradas raras localmente. Quatro espécies não foram identificadas e estão em análise pelos especialistas da UFG. A família Fabaceae foi a mais importante, com seis espécies de seis gêneros diferentes e 26 indivíduos no local (54% das árvores pertencem a esta família) (Tabela 1).

 

 

Tabela 1. Análise fitossociológica do Inventário Florestal. DA e DR são as densidades (número de plantas) absolutas e relativas de cada espécie; DoA e DoR são as dominâncias (área basal em m²) absolutas e relativas de cada espécie; e IVC e IVC % representam os Índices de Valor de Cobertura (somatório das DR e DoR de cada espécie). Ordem decrescente de IVC.

ESPÉCIES

DA

DR

DOA

DOR

IVC

IVC%

Machaerium acuminatum Kunth

14

0,292

0,263

0,182

0,141

23,7

Inga cylindrica (Vell.) Mart

5

0,104

0,294

0,203

0,307

15,4

MORTA

4

0,083

0,187

0,129

0,212

10,6

Platymiscium floribundum Vogel

4

0,083

0,126

0,087

0,17

8,5

Virola sebifera Aubl

5

0,104

0,046

0,032

0,136

6,8

Copaifera langsdorffii Des

1

0,021

0,113

0,078

0,099

5,0

Hirtella glandulosa Spreng.

1

0,021

0,095

0,066

0,086

4,3

NÃO IDENTIFICADAS

2

0,042

0,037

0,026

0,067

3,4

Annona sp.

1

0,021

0,065

0,045

0,066

3,3

Xylopia aromatica (Lam.) Mart

2

0,042

0,034

0,023

0,065

3,3

Cordia glabrata (Mart.) A. DC.

1

0,021

0,036

0,025

0,046

2,3

SP3

1

0,021

0,031

0,022

0,043

2,1

Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin

1

0,021

0,027

0,019

0,039

2,0

Plathymenia reticulata Benth.

1

0,021

0,026

0,018

0,039

1,99

SP4

1

0,021

0,02

0,014

0,034

1,7

Aspidosperma sp.

1

0,021

0,019

0,013

0,034

1,7

Platypodium elegans Vogel

1

0,021

0,012

0,008

0,029

1,5

Zanthoxylum rhoifolium Lam.

1

0,021

0,008

0,005

0,026

1,3

Buchenavia tomentosa Eichler

1

0,021

0,008

0,005

0,026

1,3

TOTAL

48

1

1,447

1

2

100

 

 

A diversidade florística local, estimada pelo índice de Diversidade de Shannon/H’, foi 2,47 nats.indv-¹, com uma equabilidade J-Pielou de 84% da diversidade máxima possível para as 19 espécies. Neste caso, esta diversidade pode ser considerada alta e indica que não há dominância de uma espécie sobre as demais, apesar de Machaerium acuminatum Kunth representar 29,1% das árvores. Isso ocorre porque as demais espécies, mesmo sendo raras, são muitas, representando 70,9% das árvores e 94,7% das espécies.

Em relação à dimensão das árvores, oito delas possuem alturas maiores do que 10 metros, caracterizando a fisionomia florestal da área. A mais alta é uma Copaifera langsdorffii Desf. com 15 metros de altura e 38 centímetros de DAP. A altura média do dossel é 7,9 m, variando de 3,5 m a 15 m. O DAP médio é 17,3 cm, variando de 6,0 cm a 46 cm.

A Figura 1 apresenta a distribuição de diâmetros e de alturas das árvores locais e a Figura 2 os boxplot com a dispersão dos valores em relação à mediana.

 

 

 

Figura 1. Distribuição diamétrica e de alturas totais das árvores no Inventário Florestal

 

A Figura 1 mostra que a maioria das árvores possuem DAP até 20 cm e alturas até 10 m. Resultado esperado em florestas naturais.

 

Figura 2. Boxplot dos DAP e alturas totais (HT). ° indicam as árvores de maiores diâmetros e alturas

 

A Figura 2 mostra que 50% das árvores têm diâmetros maiores do que 15,1 cm (mediana dos DAP’s) e indica também que 50% das árvores possuem entre 10,0 cm e 19,0 cm de DAP. A mediana das alturas é 7,8 m, sendo que 50% das árvores têm entre 6,2 m e 9,6 m.

A relação hipsométrica foi considerada boa, podendo a equação ser utilizada para estimativas de alturas a partir dos DAP’s equivalentes (Figura 3).

Figura 3. Relação hipsométrica das árvores locais

A identificação das espécies seguiu APG IV e foi conferida no herbário virtual do Jardim Botânico de Missouri/MOBOT (tropicos.org) e Pereira (2023): Árvores do Bioma Cerrado. A flora segue relacionada na Tabela 2.

O cálculo da Compensação Ambiental referente à supressão destas árvores é feito pelo corpo técnico da AMMA/GO. Aplica-se a legislação atual. O Viveiro-Florestal da UFG possui mudas de árvores nativas do Cerrado que contemplam as exigências da AMMA para a Compensação Ambiental (Pró-Floresta, 2022)

 

CONCLUSÕES

A flora encontrada indica uma área de fitofisionomia florestal com árvores de médio e grande porte. Não foram encontradas espécies protegias por Lei e imunes ao corte. A riqueza florística foi de 19 espécies, de nove famílias botânicas, distribuídas em 48 árvores. A família mais comum foi Fabaceae e a espécies mais abundante foi Machaerium acuminatum Kunth. A distribuição de diâmetros e alturas é característica para florestas naturais e a fitofisionomia local foi classificada como um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pereira BA da S, Venturoli F, Carvalho FA. Florestas estacionais no cerrado: uma visão geral. Pesqui Agropecu Trop [Internet]. 2011Jul;41(Pesqui. Agropecu. Trop., 2011 41(3)). Available from: https://doi.org/10.5216/pat.v41i3.12666.

 

Pellico Netto, S. Brena, D. Inventário Florestal. UFPR, Curitiba, 1997.

 

<profloresta.agro.ufg.br> acesso em dezembro de 2022.

 

Venturoli, F. Inventário Florestal:

princípios para uma aplicação prática. UFG, Goiânia. 2015.

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